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Tudo é líquido !

Os estudos de Zigmund Bauman em “Modernidade Líquida” e Guy Debord em “A Sociedade do espetáculo” lançam um olhar sobre a vida social contemporânea. Bauman, sociólogo, um dos maiores pensadores da atualidade vem abordando em sua obra as duas fases da modernidade: á sólida e a líquida.

A modernidade sólida é a fase marcada pela vigilância, pelo controle. O individuo se submetia aos grilhões dos deveres para com a família e o lar, o homem era extremamente ligado as tradições e aos direitos costumeiros. Essa sociedade era caracterizada pela monotonia, regularidade. Os acontecimentos se repetiam afinal esse é o momento do panóptico, aquele mesmo que Michel Foucault citou na sua obra Vigiar e Punir. Um mundo controlado com fronteiras fechadas e fixas.

Segundo Bauman as certezas da modernidade sólida se foram, e agora “a única certeza são as incertezas”. Estamos voltando aos princípios filosóficos de Parmênides, “tudo passa, se dissolve, desmaterializa”, vivemos a era do instantâneo, da rapidez, da efemeridade, do líquido! Não estamos mais ligados e nem queremos estar ligados à rotina, não conseguimos nos manter da mesma forma por muito tempo é um indefinível constante – inconstante.
Marx e Engels em sua obra O Manifesto do Partido Comunista, já falavam que “Tudo que é sólido se desmancha no ar” essa “profecia” atingiu em cheio as instituições, as tradições, o sagrado, que atualmente estão passando do estagio sólido para o líquido. O homem vive um eterno desapego, ele não precisa mais das instituições, estas se tornaram conceitos velhos e hoje estão como zumbis (mortas - vivas).

Bauman caracteriza a modernidade líquida como pós panóptica, pois a noção de controle de vigilância se perdeu, as relações ficaram voláteis. Na modernidade líquida o que importa é o tempo, afinal Bill Gattes controla a maior e a mais conhecida empresa de software do mundo pelo celular e se brincar de dentro do “jatinho”.
Hoje com apenas um “click” posso interferir em uma distância planetária, não importa mais onde está quem dá a ordem, a diferença entre próximo e distante está desaparecendo. Essa extraordinária mobilidade é que nos faz associar o tempo em que vivemos a idéia de leveza, de líquido.

Guy Debord escritor francês ,emsua obra A Sociedade do espetáculo vem lançar um olhar sobre a sociedade contemporânea a partir da perspectiva do debate Realidade X Representação. Essa obra é uma crítica a sociedade que se organiza em torno da constante falsificação da vida comum. Para Debord a vida real dos indivíduos se fragmentou, aquilo que antes era vivido diretamente tornou-se uma representação. O que antes vivíamos entre as quatro paredes da nossa casa hoje, queremos ver ao vivo no Big Brother.

O autor de A Sociedade do Espetáculo deixa claro que o espetáculo vai muito além dos meios de comunicação. Cada vez mais, nós queremos “desejamos” fazer parte dessa sociedade do espetáculo, onde um executa o outro contempla.

A vida do individuo hoje pode ser analisada dentro das perspectivas de Bauman e Debord. A etapa atual em que vivemos tem se tornado “líquida” e exatamente por isso tem saído do campo real, para tornar-se apenas uma representação. Aquilo que já derreteu, o próximo estagio é “evaporar”, ou seja, passar do campo real para o imaginário. As relações inter-pessoais Individuo X Individuo, cito aqui (a família, o casamento, a monogamia...) tem se ausentado da ótica do real para o imaginário ( espetáculo).

Em meio às moléculas frouxas da modernidade líquida e a falsificação da vida comum da sociedade do espetáculo, não adianta mais insistir nos padrões e regras da modernidade sólida. Ouso afirmar: A modernidade sólida derreteu! É utopia insistir na família linear, na idéia distante do “casamento pra sempre”, muito menos na monogamia . A sociedade espetáculo-liquida é a sociedade do ritmo, do inconstante, afinal “não podemos mais tolerar o que dura, não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos”.

Bauman em sua obra faz uso dos conceitos de Herbert Marcuse para falar da liberdade do indivíduo. Para Marcuse o prazer do homem é uma ilusão, a sua felicidade é uma fraude, ele defende a tese de que o homem precisa recuperar o gozo se re-sexualizar, libertar o eros. Se o indivíduo não for livre para agir, pensar, imaginar e desejar não há sentido falar em liberdade. Para Durkheim o indivíduo é livre, quando está preso ao todo. A ausência de regras nesse todo, acabaria por criar um estado de anomia.

Na sociedade do espetáculo o indíviduo também vive a felicidade fraudulenta trabalhada por Herbert Marcuse, o indivíduo não é livre, Debord deixa claro isso em sua obra, “Quanto mais ele contempla, menos vive, quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende sua própria existência e seu próprio desejo”. O que chega ao ponto de seus gestos próprios tornarem-se gestos de outrem e o espetáculo passa a estar em toda parte, devido à inconstância de lugar e tempo do indivíduo.

Debord diz que o espetáculo é uma “permanente guerra do Ópio”, sendo um autor pós-marxista ele deixa transparecer aqui a idéia de Marx “ a religião é o ópio do povo”. É como se a alienação social tivesse alcançado a sua máxima, o espetáculo tornou-se uma religião, o espetáculo tem a autoridade de uma instituição, exercendo poder e domínio sobre os homens.

A sociedade do espetáculo é o lugar da manipulação, o homem é monitorado por algo que ele próprio criou. Na realidade a situação que o espetáculo nos faz ver é o mundo da mercadoria dominando tudo que é vivido, este mundo mostra-se assim como ele é devido se movimento ser igual ao afastamento dos homens entre si em relação a tudo que produzem.

Não há como fugir da manipulação o espetáculo está em toda a parte, o espetáculo é híbrido, ele está nas músicas, na televisão, nas palavras. Os espetáculos substituem o papel do panóptico, aqui os indivíduos já despossuidos de si não conseguem desviar os olhos da liberdade tentadora das telas.

Zigmund Bauman fala também em sua obra do conceito de comunidade. Tem estado escasso na atualidade algo que termine por ligar os indivíduos, fazendo com que eles se percam em função da coletividade. O conceito de comunidade na visão da modernidade sólida tem ficado restrito somente as sagradas escrituras, “…viviam unidos e tinham tudo em comum.” Atualmente fala e deseja-se aquela comunidade que deixa a porta aberta pra você sair quando quiser, o indíviduo não busca nada que o prenda,o conceito de comunidade que se quer é mostrada pelo orkut, eu entro e saio da comunidade quando eu quiser. O casamento foi substituído pela coabitação e porque não falar no “ficar”... Na modernidade liquida é utópico esperar que “a morte nos separe”.

É inegável, precisamos assumir que verdadeiramente fazemos parte de uma sociedade espetáculo-líquida, e que seus efeitos sobre nós são evidentes. Precisamos então analisar o nosso contexto, pensar para modificá-lo. Não tem como fugir, estamos cada dia mais líquidos e voláteis !

8 comentários:

Rosana Barros disse...

Concordo com você, estamos vivendo numa época sem identidade, todo mundo perdido, líquidos e votáteis. A grande sensação hoje é ser incostante, não se ligar a nada, estamos indo em direção ao "caos".

André Wallyson disse...

Concordo com você, estamos vivendo numa época sem identidade, todo mundo perdido, líquidos e votáteis. A grande sensação hoje é ser incostante, não se ligar a nada, estamos indo em direção ao "caos".

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Essa menina sabe tudo,kkkk...seu blog está "mara" que nem vc...bjs!

Clarícia Dallo disse...

Amiga, ficou M A R A! Transforma em artigo!;)

Agora eu sei pq "todo mundo" é "indefinível constante inconstante!" rsrs

Todos nós somos líquidos!rsrs

Unknown disse...

Nesse tempo de idéias esquisitas,sempre achei que as pessoas são alienadas e "levadas pelo momento",também concordo com vc em relação a essa postagem onde tudo é liquido,que pena que com isso os principios são destruidos.Depois não vai adiantar ficar "chorando o leite derramado".

Tuka disse...

se tudo é liquido, joga logo tudo no liquidificador, pra ficar tudo junto e misturado, no mais perfeito estilo "ninguém é de ninguém" ou... eu ja nem sei quem sou... ou ainda... quem é você?

Gd Barros disse...

muito massa Gi podia aproveitar isso fazendo artigo e escreve mais ta muito bom

Unknown disse...

"Não sabemos mais fazer com que o tédio dê frutos"

Fiquei inquieta com essa afirmação. Apesar de praticar o desapego (ou pelo menos tentar) é difícil pensar sobre isso!
O texto tá muiiiiito bom. Você escreve com muita propriedade! haha

Ferro. disse...

Quando eu crescer, quero escrever igual a você!!!
Gi, seu texto é muito bom.
Traz excelentes reflexões

Parabéns, Gizelle...

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