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Discurso Jornalístico: Ficção e Realidade

Já houve quem acreditasse que a realidade em essência fosse reproduzida nos meios de comunicação. Que os fatos chegariam exatamente como são ao conhecimento do público, assim como o espelho mostra ao homem a sua imagem exata.
E como “nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia” abre-se os olhos hoje para enxergar uma construção midiática da realidade. Pensar o Jornalismo e o seu discurso em tempos como esse, em que a informações chegam e vão embora em tempo recorde, é bem propício.
Não quero ver o Jornalismo apenas como mediador, o que para mim é um papel extremamente simplificado, o jornalismo não é apenas um mero transmissor de informações e nem deve ser apenas isso, deve também fomentar a crítica.
Não quero ser romântica demais, e acreditar que no panorama atual com a institucionalização do jornalismo, constituíram-se sujeitos esclarecidos e emancipados. Seria definir como cor de rosa a imagem pública do jornalismo. Não posso deixar de dizer que o sujeito midiático em muitos momentos é o homem médio, homem esse reduzido ao discurso de uma única dimensão, sem pensamento crítico.
E até que ponto o discurso jornalístico é verdadeiro? Segundo o jornalista José Pedro Castanheira “A verdade é um valor inatingível, não há uma verdade absoluta”. Não existe uma verdade apodítica do jornalismo, porém, eu enquanto profissional devo buscar a melhor versão dessa tal verdade.
O que confirma o princípio da veracidade é a observação e o registro de fatos, o que nem sempre é possível para o noticiarista .Todavia o testemunho do jornalista, não dá veracidade aos fatos, porque sendo o homem um ser subjetivo, os fatos muitas vezes podem dar lugar aos valores. Ou será que você acredita em neutralidade científica? Ai já é com você...
Os atuais profissionais do jornal, quase nunca são testemunhas de fatos corriqueiros e, entretanto eles fazem parte da agenda dos jornais. “Se não presenciamos determinados fatos, logo resgatar a melhor versão da verdade é um a tarefa ingrata”, diz Clóvis Rossi conselheiro editorial da Folha de São Paulo.
A verdade é que o jornalismo construiu em torno de si uma imagem, uma aura, que até hoje é cultivada entre os indivíduos, a imagem da verdade, do evidente, do real, das certezas, da instituição que é capaz de zelar pelo retrato fiel dos fatos. No entanto é bom saber que a arte jornalística, não envolve apenas um sujeito, envolve vários, todos subjetivos, falhos. Desde a apuração até a veiculação no jornal, as pautas estão sujeitas a algum traço de manipulação ideológica. Não adianta negar, todo discurso é ideológico, há uma voz que fala, o que as outras vozes desejam ouvir. Nada é inocente tudo é intencional.
Muitos fatos permeiam a nossa realidade, e em alguns momentos somos abordados pelo imprevisível, pela surpresa, pelo inesperado. Isso é notícia, isso é fato jornalístico. E é isso que é apresentado a nós pelos jornalistas: recortes de um mundo possível e não de um mundo real.
Nem tudo é notícia. No ambiente conturbado das redações, chega uma quantidade considerável de fatos, porém a mínima parte vai para o jornal, ou seja, nem todos os fatos transformam-se em noticias.
Nelson Traquina e Mário Wolf costumam medir o grau de noticiabilidade através dos valores-notícia. Para Bourdieu esses valores, são os óculos particulares dos jornalistas, através deles vemos exatamente o que é notícia, os valores possuem critérios que contribuem na seleção, construção e reconhecimento, sobre o que é, e o que não é notícia.
A própria seleção da noticia é uma forma de construção midiatica. Não quero difundir uma visão frankfurtiana da mídia, porque acredito que teorias são válidas a seu tempo e contexto, mas não posso negar que o poder dos meios de comunicação está em padronizar difundir e compartilhar normas culturais.
O discurso jornalístico na atualidade assume uma importância ímpar para o mundo. É através dele que um sujeito, pode chegar a vários sujeitos ao mesmo tempo. A informação tem sido levada em tempo recorde pelas várias mídias.
“Os equilíbrios estremecem no compasso da ultravelocidade. Dados, sons e imagens propagam-se ininterruptamente”. Essa grande transparência e visibilidade do jornalismo, que possibilita a transmissão e a livre recepção de notícias, criou o mito de um acesso igual de informação a todos os cidadãos, o que é uma ilusão. Ilusão essa que é confirmada pelo conceito de Mc Luhan de “aldeia global”. Essa suposta mediação global do discurso jornalístico confere a ele a idéia de um discurso autêntico, legítimo, acima de qualquer questionamento.
A visão do jornalismo como um deus, faz com que a crítica não seja forjada entre os leitores, para eles aquilo que sai no jornal é verdade, nem se imagina que ali possa ser uma construção manipulada do profissional do texto.
Mas não se pode deixar de dizer que o jornalismo é um referencial. A argumentação do jornalista nos conduz ao lugar exato onde aconteceu a notícia, sua linguagem conduz o leitor a compreender as dimensões significativas do fato.
O jornalismo usa estratégias para alcançar uma maior circulação em rede, ou seja, a universalização do seu discurso. Uma tática para universalizar a linguagem jornalística é a retórica. O texto de jornal em nenhum momento pode se colocar como unidimensional, nossa mensagem vai de encontro a diversas culturas, a uma verdadeira heterogeneidade de leitores, nossa arte de falar, precisa se adequar a uma diversidade de indivíduos. A retórica ajuda os argumentos a ficarem mais facilmente compreensíveis.
No entanto, no meio midiático, há quem faça um mau uso da retórica, transformando-a na arte do engano, fazendo dela um instrumento de trapaça e mentira, ocultado argumentos de modo que fique difícil analisar e criticar determinadas teses. A má retórica quer impedir o senso crítico, o questionamento, a emancipação do indíviduo.
O indivíduo que interpretar o saber do discurso jornalístico estará mais perto de tornar-se um sujeito independente saindo, portanto, de dentro da lógica do conceito de “homem unidimensional” de Herbert Marcuse.
Essa ligação entre leitor e os veículos de comunicação de forma geral, se da a partir da concretização daquilo que Ester Marques chama de “contrato de leitura” que tem o seu ápice dentro do campo jornalístico. É preciso que haja uma relação de reciprocidade entre ambas as partes contratantes.
Utopia! Talvez seja, mas precisamos acreditar em um jornalismo além da manipulação.

3 comentários:

Maria disse...

"Desde a apuração até a veiculação no jornal, as pautas estão sujeitas a algum traço de manipulação ideológica."

Giii não ebtrega a gentee! kkkkkkk

Adorei o texto Giii! Tá ótimo

;)

Ferro. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ferro. disse...

Simplesmente, demais!!!
Parabéns, Gizelle...
Apoio a camapanha:
"Por um jornalismo além da manipulação"
(risos)
Bjão... Parabéns, mesmo!!!

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